No lugar do power point, o par de tênis
Soon Content • 10 de Abril, 2019
Por Nair Martinenko
Na véspera de embarcar para uma viagem de trabalho, recebi uma mensagem do cliente que era o motivo da minha ida para São Paulo. Dizia o seguinte: venha com um par de tênis e uma roupa confortável. Fiquei curiosa com o pedido da CEO, o que me fez pensar em várias possibilidades, mas nenhuma se encaixava efetivamente com o propósito da reunião.
A pauta do encontro era a apresentação de uma proposta de comunicação digital da minha empresa Soon Content para uma corporação de consultoria voltada à internacionalização de companhias brasileiras. Este cliente também atua na consolidação de plataformas de comercialização e no reposicionamento de produtos e serviços em mercados globais.
Então parti de Porto Alegre sem saber o que me esperava. Mas a expectativa era grande. Cheguei à noite na capital paulista e, antes de dormir, repassei a apresentação em power point sobre a estratégia que elaborei para atender a necessidade de comunicação da empresa. Na manhã seguinte, vesti minha roupa esportiva, tomei café, coloquei o notebook na mochila e parti para a reunião.
Quando entrei no prédio da sede da empresa, localizada em uma das regiões mais nobres de São Paulo, eu destoava do restante das pessoas que chegavam para trabalhar. A maioria usava terno, gravata, saia, blazer e sapato social, o que me pareceu bastante adequado ao ambiente. Mas, eu não me senti desconfortável, apenas diferente. Como eu adoro montar quebra-cabeças mentais a partir de algumas informações, imagens e observações do cotidiano, logo me vi participando de uma missão especial.
No lugar da sala de reuniões, a cidade
Subi até o nono andar e encontrei a CEO, uma executiva com sólida carreira internacional, que também estava com roupa esportiva e tênis. Pediu para eu deixar a mochila no escritório dela e me convidou para caminhar. Primeiro pelas ruas do bairro e depois em um parque próximo. Começamos falando sobre nossas impressões dos prédios, das casas e das cenas do cotidiano que nos cercavam naquele momento.
Depois, ela iniciou uma conversa sobre as aceleradas transformações no mundo em decorrência das inovações tecnológicas, influenciando a vida de todos em diferentes níveis, desde o pessoal até o profissional. Destacou que as fronteiras geográficas e culturais estão sendo diluídas e que é difícil prever os impactos disso no longo prazo, pois “estamos apenas no começo de uma grande revolução econômica e social que teve início nessa Era Digital”.
A cada observação sua, dava um espaço na fala para me ouvir. Fazia isso apenas ficando em silêncio e olhando para mim com um leve sorriso. Assim, fui me soltando e entrando naquela jornada de reflexão, até o ponto de não pensar que estava dialogando com um cliente. E, sim, com uma pessoa que, como eu e qualquer outra, tem dúvidas, convicções e sonhos. Ela não tinha apenas se despido da sua roupa de executiva, mas das redomas que afastam e protegem da vida real muitos profissionais no topo da carreira.
O mesmo aconteceu comigo. Naturalmente relaxei da minha posição de fornecedora que quer mostrar o melhor de si e do seu trabalho. Coloquei minhas impressões sem receio de como seriam interpretadas. Deixei fluir as minhas ideias sobre sociedade, economia e comunicação digital.
No lugar do fornecedor, o parceiro
Após esse inusitado encontro, entendi que ela buscava conhecer a minha essência e visão de mundo, o que não poderia ser encontrado no meu currículo ou portfólio da minha empresa. Depois de um tempo, em outro encontro, perguntei sobre essa prática. “Eu busco parceiros e não somente fornecedores”, ponderou ela.
Já se passaram quase três anos deste o primeiro encontro e seguimos na nossa parceria. Nunca o power point foi tão dispensável.